quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

LEGENDAS DE GLÓRIA

Estive ontem a ver na BTV o programa "Vitórias e Património" sobre o nascimento do Benfica e no capítulo da legenda do seu emblema, "e pluribus unum", verifico que o seu significado não é aquele que já se encontra aceite e entendido de uma forma consensual e definitiva como querendo dizer "um por todos e todos por um": nada disso, não tem nada a ver. Sempre reparei nesse erro e, perdoem-me os meus amigos benfiquistas, mas entendo que será este o momento de manifestar o meu desacordo e a minha opinião sobre o assunto. Este é também o lema nacional dos Estados Unidos e traduzido á letra quer dizer: com muitos se faz um só! Subentende uma ideia de união e não de entre-ajuda, se bem que em casos desta natureza existe sempre uma ajuda comum no sentido do engrandecimento da Entidade que resultou dessa União. Não pretendo dar lições a ninguém nem construir qualquer tese mas, quem souber latim ou tiver um curso do mesmo, logo dá pelo erro e pela divergência, porque se trata apenas de uma tradução mal feita da referida locução. 
O Latim é uma língua considerada morta por já não ter expressão falada em nenhum povo do mundo e deu origem ás chamadas línguas latinas, como o nosso português, o castelhano, o francês, o italiano e mais algumas; língua muito bela, faz parte dessa beleza a particularidade da "construção" das suas frases, onde muitas vezes o sujeito aparece no fim do parágrafo, outras no meio, o predicado em algum lugar desfasado, os complementos muito baralhados ao longo do texto e que o parecem tornar ininteligível. Ora, uma das acções mais primordiais - e bem difíceis - para se fazer uma boa tradução de textos latinos consiste em organizar a chamada "construção" de forma a colocar as palavras na devida ordem da sintaxe gramatical tornando-as, por assim dizer, muito mais a jeito de facilitar a tarefa. 
E assim, vejamos: examinemos então, uma por uma, estas três palavras da legenda inscrita no nosso emblema: o e, (que se lê mesmo ê e não i, como em português) é a apócope de ex, uma preposição que indica proveniência, a partir de, e pede o caso ablativo, daí o pluribus, ablativo plural do adjectivo plus cujo significado se entende por muitos, muita gente, multidão. Unum pois, é o género neutro de unus, nome latino da unidade e, como todos sabem, também significativo de único. Tudo isto indica que a Instituição Benfica é constituída por uma multidão de gente, o povo, e que todos unidos devem agir e trabalhar no sentido de a tornar grandiosa e única, como tem vindo a acontecer. Portanto e posta a locução na sua ordem traduzível, teríamos - Unum e pluribus, desta forma muito mais simples de entender; como fica claro, um só, proveniente de muitos; um único, saído duma multidão.
Como se pode verificar, isto não tem nada a ver com o conceito, a meu ver errado, (quanto á filologia, entenda-se) com a também célebre e gloriosa legenda dos mosqueteiros; um por todos e todos por um, a qual se poderia retroverter, mais ou menos, da seguinte forma;- pro omnibus unum, omnes pro uno.
Mas perdoem-me os meus amigos benfiquistas esta minha interpretação, assente na verdade, não fiquem preocupados e descansem que a tradução correcta da nossa divisa em nada deslustra ou apouca o nosso grandioso Benfica, nem vai alterar nada na sua gloriosa história. Qualquer dos conceitos seguidos é lindo, denota magnificência e glória, se pode aplicar e fica bem na génese do nosso Clube. 
Fazendo um grosseiro paralelismo com o conhecido filme "Duelo Imortal" fica intrínseca a noção dessa legenda; a de que só pode existir um único imortal, asserção que se justapõe ao nosso Benfica com absoluta propriedade. Porque só o Benfica pode ser - e é - o Maior, o mais Belo, o único Imortal. 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

BALADA DO MEU NATAL




Já por mim foram passando muitos Natais, em épocas mais felizes uns, outros nas mais atribuladas, mas todos eles com o seu espírito de amor e paz, rudes, genuínos e humildes. Poderia estar para aqui a recordar muitos deles mas hoje só vou lembrar o Natal de quando eu era pequenino, da minha infância, da minha mocidade, de quando ia descalço para a escola, em dias de geada e frio, porque achávamos giro tirar os tamancos com solas de pau de amieiro cardadas com tacholas. Foram Natais emblemáticos pela magia que irradiavam, Natais onde faltava tudo num tempo de guerra mundial e de extrema penúria em todos os povos. Ninguém tinha nada e todos tinham tudo porque se repartia por todos os vizinhos, com alegria e bondade, o pouco que havia.
No canto da  sala da casa de meus pais era armado um singelo presépio, uma cabana tosca feita de gravatos e palha metida no meio de pedras cobertas de musgo e onde estava deitado um Menino Jesus de barro, sorridente e de braços abertos, rodeado por S.José e pela Virgem Nossa Senhora, sua mãe, também do tradicional jumento e da mansa vaquinha. Nessa noite santa, vinham outros irmãos que estavam longe, vinham tios e primos, vinham outras crianças e amigos e á hora da ceia nunca faltou o peculiar bacalhau com batatas e couves galegas, o polvo colorido e fumegante, tudo regado com generoso vinho carrascão do meu adorado Minho. No fim eram servidos os doces: rabanadas tostadas polvilhadas com canela e açúcar amarelo, as borrachonas ásperas e de forte sabor, os bolinhos de jerimu e as filhoses de massa doce de farinha, fritas em azeite puro do lavrador. No fim de tudo e até altas horas da noite era-nos permitido jogar ao rapa com pinhões descascados de pinhas mansas abertas numa fogueira que nos deixava as mãos e as caras ensarranhadas.
Nesse tempo não havia brinquedos nem prendas: os que existiam eram feitos por nós á navalha com pedaços de tabuínhas de madeira, diversos paus e arames. E que lindos que ficavam! Eram carrinhos singelos, barcos e aviões, bicicletas e carros de bois, até um comboio com muitas carruagens. Na manhã de Natal fazíamos uma bola de trapos com meias velhas e logo de seguida espantávamos o frio num jogo renhido entre toda a rapaziada. 
A vida era difícil, com muitas carências, em certos casos com alguma fome. Havia o Salazar e o Carmona, mas tudo era pobre, possivelmente alguns remediados. Nessa altura começava a aparecer a luz eléctrica em certos lugares. Lembro-me de a minha aldeia ter sido uma das primeiras onde ela foi ligada e o meu pai comprou então um rádio muito pequeno, com uma potência mais fraca que a de um telemóvel de hoje e que nós colocávamos numa janela quando aos domingos  dava os relatos de futebol e púnhamos no máximo para que os golos do Benfica se pudessem ouvir no outro lado da Galiza que só tinha o rio Minho de permeio. Grande ilusão das nossas mentes infantis que julgavam ser o mundo um pequeno quintal pois, na verdade, esses gritos de triunfo mal se conseguiam ouvir na própria sala onde nos encontrávamos.
Porque se tornaram então tão inesquecíveis esses Natais da minha juventude? Porque irradiava deles uma essência de paz e fraternidade, uma força divina capaz de parar uma batalha tão mortífera e feroz como a de Estalinegrado, na frente russa, numa trégua tão ingente e avassaladora que invadia as mentes retorcidas pelo ódio. Fui desse tempo e embora lá não tenha estado sei do acontecimento porque dele reza a História. Mesmo nessa noite infernal da refrega a força do Natal fez deter por horas a horrorosa chacina, chamando ao respeito e á piedade a razão humana, podendo então ouvir-se o som dum piano tocando a irreal melodia do "Stille Nacht" que irrompia solitária do fundo dos escombros e da morte. 
Mais tarde, enquanto fui crescendo, outros sóis e outras luas de Natal aconteceram, de uma forma geral deixando sempre a sua intrínseca magia, os eflúvios da sua força infinita e divina que deixavam sempre a caridade e a paz. E durante toda a minha existência, ingénuo de mim, nunca concebi nem imaginei que algum dia pudesse acontecer um Natal como o deste fatídico ano de 2011. Um Natal atrabiliário e de ignominia, abominável, esvoaçado por avejões tenebrosos que zunem á nossa volta em cimérios pesadelos de trevas e fatalidade, onde sobressaem demónios como o asqueroso meliante do Freixo e sua quadrilha, um Natal povoado de cínicos e rapaces ladrões que numa desvergonha sem nome escolheram precisamente esta santa Quadra para roubar, de forma agressiva, os parcos recursos que milhões de pobres e miseráveis tinham angariado durante anos a fio com árduo trabalho e o esforçado suor do seu rosto, extorquidos em nome dum suposto e maldito privilégio.
Por isso aqui estou nesta santa hora a desejar sinceramente a todos os que, porventura, me possam vir a ler, mormente a todos os benfiquistas, um Natal, se não melhor, ao menos como aqueles que citei do meu passado, todos eles imbuídos de verdade, de apreço, de autenticidade. Felizmente que ainda me restam na memória esses Natais passados para os poder sentir e oferecer, pois Natais como o presente não os posso nem quero desejar a ninguém. Seria um desaforo e um insulto porque esse não é o meu Natal!


domingo, 11 de dezembro de 2011

TEMPOS DIFÍCEIS

Hoje de manhã ao levantar-me verifiquei, com mágoa, que os corruptos e os sardões verdes lá se conseguiram desfazer, melhor ou pior, dos seus adversários e, por tal motivo, colocaram o Benfica na incómoda obrigação de ter que vencer hoje na Madeira. 
Tudo isto vem de encontro ao meu pensamento; os batoteiros de Contumil nunca terão problemas porque, cá dentro, já se sabe a razão, não têm rival e, durante todo o campeonato, este e todos os outros,  tem sido sempre assim; limitam-se a fazer um treino em todos os jogos e depois apenas se esforçam um pouco mais contra nós; os terroristas pirómanos esses, coitados, apesar de estarem a fazer das tripas coração demonstrando uma pujança em que eu não acredito, também vão seguindo, pensam eles, a caminho do Olimpo. Desses, apesar disso tudo, não sinto nem tenho qualquer medo pois, me parece, vão parar perto.
A ilação que se pode extrair deste imutável panorama é a de que ao nosso Clube não basta ter uma grande equipa, que tal não adianta porque  mesmo as grandes equipas podem ter dias maus em virtude de serem constituídas por seres humanos, ficando sempre e dessa forma em desvantagem com outras que, pelo menos, parecem ser provenientes de outros mundos. Estas nunca são afectadas por crises, contratempos ou atribulações de qualquer espécie. É irrefutável e óbvio e, como disse, de nada adianta especular, congeminar estratégias ou alimentar expectativas, apenas inevitável conformismo.
Estou de acordo com todos aqueles que lamentam o que ocorreu ontem nas eleições para a Federação Portuguesa de Futebol porque tudo se passa como o virar dum disco que tem a mesma música gravada do outro lado; saiu um patife corrupto e entrou outro desavergonhado bem pior, lente que foi duma escola da mais refinada trafulhice. E tudo continuará na mesma triste situação, parece que ad æternum!
Queria muito manter-me calmo e seguro, alicerçado na força da qualidade da nossa equipa, porém, tendo em conta que as coisas não se desenrolam dessa forma, muito temo que, mais logo, o Benfica se veja relegado para posições que se não desejam mas que, dadas as circunstâncias, são de admitir como muito prováveis. Ele não virá um dia em que tudo volte ao normal? Creio que para mim já não!

sábado, 3 de dezembro de 2011

SEMENTES DE VIOLÊNCIA

Que hei-de eu dizer? Por fim lá nos derrotaram ontem na Madeira e, (sabem uma coisa?) foi a derrota que menos me incomodou até hoje. Bah! Taça de Portugal? Bem vistas as coisas, taças há muitas e eu considero a de Portugal o troféu de consolação dos derrotados. Além disso, vejo outros factores que me induzem a ter esta opinião que procura atenuar a derrota; marcamos de penalti, dizem alguns que forçado (eu não vi) e não gostaria de ter ganho com um golo obtido dessa forma; por outro lado, também é bonito a Taça de Portugal ser ganha por clubes menores; não dizem que ela é a festa do futebol? Por isso, não vejo drama nenhum em o Benfica ter perdido ontem; pior seria (e será) se perder já daqui a poucos dias quando lá tornar para o jogo do campeonato, mas quer-me parecer que esse não vai ser assim desperdiçado.
Feliz ou infelizmente, depende dos pontos de vista, eu já ando cá por baixo há muito tempo e sei como as coisas ás vezes funcionam sendo convicção minha que o Benfica, não digo que tivesse forçado a derrota, mas a tenha aceitado com certo alívio. Dir-me-ão que ninguém gosta de perder e é certo, mas da maneira como o futebol é encarado nestes tempos, nada se pode excluir como possível. Já li por aí que no ano passado, quando se disputavam as meias finais da Liga Europa, a UEFA parece ter sugerido que não veria com bons olhos, por não convir, uma final entre o nosso Clube e o dos corruptos do Freixo. Poderá ser uma iníqua fantasia mas a mim não me custa nada a acreditar nela. 
Se tivéssemos trazido ontem a vitória dos Barreiros quem é que iríamos defrontar na próxima eliminatória? Precisamente o clube dos sardões verdes e lá na latrina deles. Tenho para mim que, dada a sementeira de ódios e violência que esses répteis têm espalhado recentemente em nossa direcção, poderiam advir para as nossas cores resultados imponderáveis, humilhações várias e sei lá que ciladas mais. E, não tenham dúvidas, em virtude da aversão e rancor com que somos tratados, tudo isso seria depois virado contra nós e desvalorizado por toda a canalha que pulula pelos meandros do desporto. Pelo que tenho percebido o lagartêdo andaria atarefado em preparar-nos uma exemplar recepção, ao estilo terrorista que eles muito bem sabem executar. 
Ora, se coisas assim se passassem comigo, preferiria afastar-me mesmo com algum custo e orgulho ferido, ignorando tal ralé e deixando-os a falar sozinhos. Poderia trazer bem piores resultados qualquer confronto com essa gente que, todos sabem, só a nós próprios penalizaria de forma perigosa. Uma retirada estratégica faz muitas vezes parte de uma batalha vitoriosa. Se o principal do que nos interessa não for descurado, nada de mal nos poderá atingir. Competições como a Taça de Portugal e da Liga só atrapalham e causam prejuízos a um Clube com a dimensão do Benfica; não passam de jogos a feijões, sobretudo acontecendo neste País.