sexta-feira, 17 de agosto de 2012

NUVENS NEGRAS




Desde aquela ignomíniosa vitória do grupo da quadrilha do Freixo no estádio da Luz que eu jurei a mim mesmo nunca mais me enfronhar nestas coisas do futebol deste País, nem do seu desporto em geral. Mas como não me posso isolar num qualquer ermitério e como vai começar a “dança” (como diz o povo) abro aqui uma excepção e vou só dizer umas pequenas coisas que me vão na alma, assim em jeito de uma mais que esperada premonição. Estou a passar uns dias de férias aqui bem perto do ninho da Águia, o magnífico estádio da Luz mas, estranhamente, sinto-me tomado duma modorrenta abulia e manietado por desinteressados pensamentos. Amigos correligionários desta fanática fé, martirizado por leituras díspares e desencontradas dos bloguers benfiquistas, sinto que o desânimo tomou conta dos meus dias porque me é lícito intuir uma revolta surda entre todos, um desnorteamento pernicioso, uma insatisfação duvidosa. Parece que ninguém se entende e todos desatam a ralhar: com razão? Sem razão? A incerteza é latente e prenuncia maus ventos e nuvens muito negras. 
Não aceito, pois, que me chameis de profeta da desgraça nem de ave de mau agoiro com estas minhas considerações porque quase todos nós andamos perturbados e á deriva, como atrás afirmei. Acreditai que gostaria, á semelhança de outros tempos de verdade e de paz que já vivi, de encarar o começo desta nova época com um sorriso aberto. Adivinho muito improvável que tal aconteça.        
    Também porque um facto é certo e contra factos não se podem esgrimir esperanças. Feliz ou infelizmente já cá ando há muito, como se costuma dizer e quando se vê sempre o mesmo filme, quando se observam sempre os mesmos adereços, quando o que a Casa gasta não é susceptível de se alterar, não se podem prever outras conclusões, diferentes das que sempre aconteceram. Nem sequer é possível esperar as grandes euforias baseadas num cenário limpo quando o mesmo se apresenta sempre eivado dos mesmos vícios de todos os anos, destes últimos trinta anos de medo e repulsa. Prevejo que por alturas do tempo costumeiro lá se irão esfumar todos os entusiasmos porventura expectáveis devido a desempenhos até aí brilhantes, lá se irão acabar todas as esperanças, lá irão murchar todos os sorrisos e mesmo todas as certezas. O final do enredo será sempre o mesmo e tudo terminará mais uma vez numa ilusão desgraçada, regressando ás nossas desprevenidas hostes o azedume e a truculência anteriores. A corja do costume, com bons jogadores, com estivadores ou com maltrapilhos, lá ganhará sempre, nunca se atrasará na classificação, lá se postará no poleiro, inamovível, pegajosa como um escarro, conseguindo, duma forma ou doutra, a realização dos seus criminosos intentos. E o ciclo voltará a começar  outra vez de forma imutável como se fosse riscado a papel químico ou exarado nalguma cartilha de pitonisa.  
Por isso, amigos, entendo eu, sinto eu, não valerá de nada ter esperança, ganhar entusiasmo, prever outros resultados. Amanhã vai começar mais uma saga podre, inútil e forjada. Lá vão começar os roubos acintosos e provocantes, os ataques raivosos dos escribas e fariseus, o ranger dos colmilhos da matilha acirrada, a ignomínia da perseguição do que devia ser Justiça, da impune manipulação dos que têm o poder e o usam para seu inconfessável proveito. São sempre os mesmos predadores, caros amigos.
     Assim, a minha fé é muito diluída. O que me espanta é como alguém pode, vezes sem fim, ano após ano, arquitectar sonhos justos quando sabe que eles vão terminar sempre em dolorosos pesadelos. Só me lembro duma figura dos anais da História que se dispôs a prosseguir sempre, sem canseira, no conformado intento duma alucinada e arreigada paixão; era ele Jacob que no desvario da louca afeição á sua pastora, depois de servir sete anos, não se importava de servir outros sete se a vida não fosse tão curta para tão longo amor. Assim o cantou admiravelmente o nosso excelso Poeta. Só que não vejo, não quero nem desejo que os benfiquistas, no ardente e generoso amor ao seu Clube sejam outros Jacobs e estejam dispostos a esperar tanto, até porque os anos bíblicos, sendo muitos, eram bem menos que os já decorridos desta infame e interminável servidão. 
Mas eu não sou assim tão persistente nem estou disposto a servir tanto tempo.




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