domingo, 16 de outubro de 2011

REDACÇÃO DE UM PUTO DE ESCOLA

Os vampiros. Eu nunca vi nenhum vampiro. Dizem que são uns bicharocos negros e muito feios que voam de noite, em magotes. Que não têm ossos nem penas macias, mas nervuras ásperas. Que só bebem e gostam muito de sangue. Que têm uns dentes ocos e aguçados com que chupam o sangue das pessoas. Disse-me o meu amigo Tone da Reigada que já viu um. O Tone é um mentiroso porque está a dizer isso só para me assustar. Mas o meu pai, quando lho perguntei, encolheu os ombros e só me disse que os vampiros existem e  atacam tudo o que lhes cheire a sangue. Que começaram a aparecer há alguns anos, num certo dia de Abril. Eram muitos e mais vieram depois, engrossando o bando; tinham cada vez  mais sede e todo o sangue que havia já não ia chegando para os fartar e quanto menos sangue havia mais desaustinados iam ficando, ao ponto de perderem algum receio e começarem a sair do escuro da noite para se empanturrarem em plena luz do dia. Agora andam por todo o lado e atacam sem medo e ás claras.
Ah, se calhar é verdade e por isso é que eu vi tanta gente nas rua a berrar e então alembrei-me duma cantiguinha de vampiros que cantava que eles comiam tudo e não deixavam nada. Que sugavam o sangue e ficavam com os beiços muito focinhudos, como os dos aganões, todos lambuzados, tão gordos e inchados que até quase estoupavam. Mas logo lhes vinha a fome e então lá iam eles outra vez a voar de noite e até de dia á procura de mais sangue. E nunca se fartavam. 
O meu irmão mais velho, o Nelo, que já é casado, disse-me que já foi mordido por eles, que perdeu muito sangue e o fez ficar sem o dinheirinho das férias e do Natal. Que este ano não me ia dar a prenda do costume porque não podia, que nem aos meus primos, os filhos dele, lhas podia dar. Há dias ouvi minha mãe, danada, a barafustar que essa bicharada tinha andado por lá e a tinham cravado, que eram piores que os ladrões porque levavam tudo pela calada. Até o meu avô Bílio e a minha avó Quina, que mal vivem duma reforminha que recebem, me mostraram umas mordidas frescas que os malvados lhes tinham feito numa noite destas, tendo ficado sem algum do seu pouco sangue e também, por via disso, nem um rebuçadinho me iam poder dar neste Natal. A minha professora também me disse que tem sido muito mortificada pelos vampiros, que os sente á volta dela a quererem mordê-la e que, muitas vezes, nem a deixam sequer dormir. O meu tio Artur, que gosta muito de ir á bola, anda sempre a dizer que os viu lá pelos campos de futebol a chuchar as outras equipas e que no fim do jogo se vão embora tão gordos e inchados que até arrebentam. Por isso eu não sei se vou ter de acreditar mas, se tanta gente o diz, deve ser verdade. E começo a ficar também muito acagaçado.
Eu não gosto nada de vampiros!


Zèquinha

  

3 comentários:

David Gonçalves disse...

No alvo, parabéns

Atlas disse...

Pois eu já tenho uma opinião bem diferente - eu penso que os Portugueses adoram os vampiros. Há 30 e tal anos que andam a ser sugados por eles e quanto mais os sogam mais neles votam.
Eis alguns exemplos das comarcas que provam a minha teoria - Felgueiras, Gondomar, Leiria, Oeiras, Marco de Canavezes, Madeira, Açores, etc.
A arte dos vampiros é persuadir as vítimas que o chavão "obra feita" é uma condecoração nacional.
Cada vez me convenço mais que há cúmulos para tudo menos ignorância!
Se todos os portugueses votassem como eu sempre voto (ou seja no bloco que eu adiciono no fundo do boletim de voto) garanto que os vampiros morriam à fome.
Eu ainda gostaria de saber como se pode chamar democracia ao voto de 230 priveligiados que têm de votar de acordo com os lideres dos respectivos partidos - caso contrário deixam de votar.
GRANDAAAA DEMOCRACIA!!!!!!

Dylan disse...

Com alho, empalados, com água benta, a tiro, decapitando, etc, urge matar esse(s) sacana (s).