sexta-feira, 8 de julho de 2011

O DIA EM QUE FUI ROUBADO EM BRAGA

Como, neste momento, estamos para aqui sem grandes assuntos para explanar, vou contar-vos uma peripécia que me aconteceu há já alguns anos na cidade de Braga, ainda no antigo estádio, antes 28 de Maio e depois, ao sabor da revolução, re-baptizado de 1º. de Maio. Nesses tempos em que o Benfica lá jogava, ainda era muito benquisto e respeitado pelo clube bracarense, porque este ainda não tinha sido eivado da peçonha de certos bichos mitológicos nem tinha ainda a alma possuída pelos demónios da camorra; por isso, o respeito imperava de forma natural e pacífica. No entanto, o jogo que se traz á baila não era mesmo contra o Clube local e sim contra o União da Madeira que, nessa altura andava na primeira divisão e, como tivesse jogado na jornada anterior em Lisboa, não recordo contra quem, e não querendo regressar ao Funchal para não aumentar as despesas, resolveu escolher o dito estádio 1º. de Maio, em Braga, para defrontar o Benfica na jornada a seguir. Treinava então a nossa Equipa o Toni e faziam parte dela jogadores de grande gabarito e sobejamente conhecidos, tais como Rui Costa, Isaías, Rui Águas, João Pinto, os russos Yuran e Kulkov, entre muitos outros de conhecido renome e, caso vencesse, sagrar-se-ia campeão como, de facto, veio a suceder.
Havia um grupo de amigos, entre eles o meu falecido irmão e um sobrinho meu que é médico, que não falhava um jogo do Benfica quando este se deslocava a Guimarães, Braga, Póvoa ou Vila do Conde. Como todos eles residiam num concelho vizinho daquele onde eu morava e ainda moro e porque ficava também mais perto da cidade dos arcebispos, era costume algum deles pedir-me para  conseguir os bilhetes que fossem necessários. Dessa vez, foi o referido meu sobrinho que se encarregou de me telefonar:
Tio, arranje 6 bilhetes, mas para a Tribuna, porque tencionamos ir um pouco mais tarde mas ter lugar garantido ao chegar.
A Tribuna, no antigo estádio 1º. de Maio, era assim como uma espécie de bancada central, frequentada por pessoas consideradas mais evoluídas e com mais desafogo económico e, nessa ocasião, um ingresso para ela custava 5 200$00, mais uns pozinhos para despesas logísticas.
No dia desse jogo, chegamos muito perto do início do mesmo e nas imediações do estádio mal se rompia por entre uma apertada multidão que se movia desorientada e desordenadamente. Percebemos logo que não ia ser fácil entrar no estádio e chegando a muito custo ao buraco de acesso á Tribuna verificamos que, na verdade, não era possível fazê-lo, pois não cabia uma folha de papel entre cada um dos espectadores que já lá se encontravam, de pé e espremidos como sardinha em canastra. Pudera!  Nesses tempos já se explorava o Benfica forte e feio, sem escrúpulos, e nos jogos em que Ele intervinha, se a lotação do recinto se compunha de 20 000 lugares eram, certamente, vendidos 40 000 ou mais. Felizmente que isso hoje não é mais possível
Interpelando um dos funcionários que nos vedava a entrada e exibindo-lhe os bilhetes adquiridos ele, um tanto agastado e impotente, foi-nos sugerindo o  seguinte, em jeito de solução:
Amigos, como vêem, aqui não conseguem entrar; se desejarem podem seguir para a cabeceira que fica junto da porta da maratona. Retorquimos que os nossos bilhetes tinham custado mais de cinco contos cada um e o preço dos da cabeceira era muito mais baixo, por volta dos trezentos escudos. O homem foi, então, irredutível. Indignados, dirigimo-nos a um polícia que por ali andava, demonstrando-lhe o nosso inconformismo. O guarda, inicialmente, procurou deitar água na fervura e, por fim, não o conseguindo, ainda nos verberou a conduta de termos chegado muito em cima da hora. Então, um de nós não se conteve e enfrentou-o:
Senhor agente, se eu roubo vinte escudos a alguém dá-me logo voz de prisão por gatunagem e aqui o Clube de Braga rouba-nos quase cinco contos e diz que nada pode fazer? 
E é que não entramos mesmo, nem vimos o desafio. Valeu-nos o Benfica ter ganho  por 3-0, sagrando-se, mais uma vez, campeão. 


2 comentários:

Dylan disse...

Acho que esse jogo foi contra o Gil Vicente.
Abraço.

Manuel disse...

Aconteceu quase a mesma a mim e a três outras pessoas num jogo em Guimarães que ganhámos. Foi a primeira e a última vez que fui ver o Benfica jogar fora. Dar dinheiro a gatunos? NUNCA!